Adaptação e Investimentos

23maio24

Ainda humano.

Não, não usei o ChatGPT para escrever esse artigo. Não porque eu seja contra à tecnologia, pelo contrário. Mas penso que é preciso manter o humano em primeiro lugar, mesmo que imperfeito e passível de erros. Não quero perder a capacidade de pensar, de refletir. Mas… Isso vai ocorrer com a maioria em pouco tempo.

Escrevo a 18 anos sobre o mercado de ações e principalmente sobre questões comportamentais e sociais envolvendo o mercado. Ao contrário do que muitos pensam, lidar com investimentos não tem muito a ver com economia e finanças, tem mais a ver com o lado humano, com nosso comportamento, nossos medos, fraquezas, forças, vícios, virtudes, influências, nossa visão sobre a vida. Investir tem mais a ver com nosso emocional do que com nossa conta bancária.


Estamos “indo”, a questão é o prefixo.

Fiquei os últimos quatro anos sem escrever. Tentando entender o que estava acontecendo. Não foi só a pandemia. Houve sim uma grande e rápida mudança cultural/comportamental nos últimos quatro anos. Ainda não compreendo tudo que ocorreu e está ocorrendo, mas agora já tenho uma boa noção. Consigo escrever. E não sou só eu que tive essa dificuldade de compreensão. Muitos outros pensadores, sociólogos, filósofos, acadêmicos, teólogos estão passando por essa dificuldade de compreensão e assimilação das mudanças. Tudo leva tempo, principalmente estudos e reflexões. E a velocidade das mudanças está tão grande que não há tempo hábil para compreensão. Talvez os teólogos estejam à frente nisso. Mas a maioria da população está totalmente inocente diante dos desafios atuais.

Já dizia Heráclito que “a única coisa constante é a mudança”. Mas nem sempre mudança significa evolução. Inclusive há uma corrente de pensadores que considera estarmos involuindo ao invés de evoluindo. Estamos sempre “indo”, a questão é o prefixo.

Charles Darwin disse que neste mundo não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente. É aquele que melhor se adapta à mudança. Então o jeito é nos adaptarmos, mas sem involuir. O desafio é adaptar, sem ser para pior.


Mudança, Mudança-Rápida, Mudança-Brusca.

Neste momento histórico em 2024, que estamos presenciando mudanças tanto sociais quanto climáticas e existenciais, penso que é importante trazer essa reflexão. Mas o que isso tem a ver com o tema investimento? Tudo! Você acha que seu emprego, seu trabalho, sua atividade, seu empreendimento vão continuar do mesmo jeito daqui a poucos cinco anos? Será que eles vão sequer existir logo ali em cinco anos? Será que o meio onde vive vai ser o mesmo em cinco anos? Será que você está preparado para algo extraordinário como uma tragédia social ou climática? Sim, pois agora não é mais uma “mudança”, é uma mudança rápida, e eventualmente uma mudança brusca mesmo. De uma hora para outra tudo que é sólido pode se desmanchar no ar, uma frase que incrivelmente se remete à 1848 de Marks e Engels, mas que é mais atual do que nunca!

Você tem investimentos que vão suportar a isso? Você tem sequer investimentos, para lhe dar suporte quando essas mudanças vierem? Perceba: se sempre foi importante desenvolvermos um colchão de segurança através de nossos investimentos, agora mais do que nunca. Você tem seu plano “A”, ok. Mas tem plano “B”? Tem um plano “C”? E seus planos “B” e “C” são estratégicos e capazes de aguentar qualquer coisa? Pois o plano “A”, sinto em dizer, pode não durar muito mais tempo. E vale dizer: a maioria da população nem sequer plano “A” tem.

Agarrar-se ao plano “A” pode ser um ato de valentia, resiliência, coragem. Posso listar mais e mais virtudes de quem se esforça em seu plano “A”. Já dizia Antífanes que “tudo se rende à determinação”. Mas eu considero que a frase está incompleta. Pois não adianta ser determinado se o caminho estiver errado. Ou se o caminho, mesmo sendo inicialmente o correto, muda de uma hora para outra.


Vaca e boi?

Ter uma mente de investidor significa estar sempre um passo adiante da maioria. Não porque somos “mais espertos” que os outros, mas sim porque somos mais precavidos, mais prudentes, pensamos além do momento presente, além do imediato. Quem anda com a cabeça baixa olhando só o imediato, seguindo uma trilha atrás de outros da mesma espécie que muitas vezes estão defecando em sua frente, é gado. Vaca e boi.

Muitos falam em insegurança, medo de investir. Mas é justamente nesses momentos que devemos pensar ainda mais e tomar decisões estratégicas. Em um mundo em rápido movimento, ficar paralisado é justamente o mais perigoso. Darwin concordaria com isto. Já refletiu sobre seu plano “A”? Já pensou em um plano “B” e “C”? Está investindo de forma estratégica e inteligente? Seu manejo de risco está bem-feito? Pronto para o que der e vier? Isso não vai evitar as mudanças e as dificuldades que virão, mas pode lhe ajudar a se adaptar a tudo de forma menos traumática, lhe ajudar a atravessar os desafios com mais calma e, assim, mais sucesso.


Perguntas, faça perguntas!

Não vou encerrar o texto com respostas. O mais importante aqui são as perguntas. Neste mundo de rápidas mudanças é mais importante saber fazer perguntas do que dar respostas. Sua resposta pode mudar rapidamente, mas as perguntas não.

Sei que a velocidade está lhe atropelando. Mas consiga tempo para pensar, refletir, planejar. Não se nivele por baixo, pelas máquinas. Não se torne um autômato. Ao se nivelar por baixo, pelas máquinas, vai perder para elas. Esforce-se para permanecer-se humano, manter aquele sopro de vida que as máquinas nunca terão. Nossa luta não é contra as máquinas ou contra o planeta, nossa luta é contra nossa mediocridade.

Abraços e bons investimentos!
Eduardo Leitão



11 Responses to “Adaptação e Investimentos”

  1. 1 Anônimo

    Em partes ,vc está cwrto em outraa vejo um pouco de excesso ao se preocupar daqui a uns 5 anos.Pra vc um servo do Altissimo,porque preocupar se demasiado com o futuro,se não sabemos nem se vamos acordar pro dia de amanhã?

    Pensadores,Cientistas ,Psicologos e Teologos não estão certos em nada .,apenas trabalham com probabilidades…

    Maa Deus cuida de todos nós ,vamos vivendo o dia de hj e amanhã a Deus pertence para aqueles que creem…

  2. 2 Anônimo

    É uma pena, que em um cenário de tantas novidades tecnológicas, por incrível que pareça, a nossa principal luta é, e ainda será por um bom tempo, contra a falta de investimento na educação de base no nosso país e, consequentemente, contra a mediocridade que insiste em não desaparecer!

    Parabéns novamente por um texto tão lúcido e que nos alerta para a vida!

    Abs!

    L.O.

  3. 3 Anônimo

    Sensacional, Leitão! Estamos em uma fase de nossa existência neste mundo (com tantas transformações ambientais, sociais, etc) que demanda reflexão, autoconhecimento, adaptação, quebra de verdades até então tidas como absolutas, ousadia e cautela em seus devidos lugares, e (achei sensacional tua reflexão) perguntas, muitas perguntas. Pois, a partir dos questionamentos, trilharemos o caminho da resposta, que é tão ou mais importante que a resposta em si. Nossa tão sonhada independência financeira está, necessariamente, passando por esta adaptação à nova realidade. Abraço.

  4. 4 Leitão

    Bom dia, amigos! Obrigado pelos comentários!

    Como não sei o nome de todos, vou colocar por número:

    1. Sim, não devemos ter ansiedade (apesar de não conseguirmos isso na prática). Confiar na lei da vida, ter calma e fé. Mas isso não quer dizer que devemos ficar alheios. Como na parábola dos 10 talentos, cada um tem que pegar seus talentos e produzir, pois nas dificuldades os mais fortes devem ajudar os mais fracos. Os que foram prudentes vão cobrir os que passaram mais dificuldades. E nunca se esquecer que os maiores tesouros devem ser guardados onde as traças não roem e os ladrões não roubam.

    2. Valeu, L.O.! Sim, quanto mais a tecnologia avança, mais devemos fazer o caminho contrário, avançando para nossa verdadeira humanidade.

    3. Obrigado, amigo! Sim, a tranquilidade financeira não é de graça, exige preparo e adaptabilidade. É como o provérbio popular: “Si vis pacem, para bellum” – Se queres paz, prepara-te para a guerra.

    Abraços!
    Leitão

  5. 5 Anônimo

    Otimo texto Leitão.

    Sou dentista a 40 anos e estou sentindo isso na minha profissão. Parece que hoje só existe proteses feitas por computador e implantes colocados por orientação tecnologica, esqueceram que o cliente é um ser humano e teem necessidades que vão alem disso. Não tem mais conhecimento do basico, como se a maquina resolvesse tudo. É triste ver . sou reabilitador e meus trabalhos são na maioria ter que corrigir erros dos outros por desconhecimento da anatomia basica, do ser humano que esta junto com a ‘boca’. as vezes penso em parar, ja estou bem tranquilo, mas continuo porque sei que ainda tem muita gente que precisa dos meus conhecimento “antigos”, “ultrapassados”, é isso aí. que fim teremos? não sei, mas não estou gostando do que vejo.

    Abraços

    DJ

  6. 6 Anônimo

    Leitão,

    Que bom ter você de volta, escrevendo novos textos. Embora, leio e releio seus textos, seus livros, dos quais a grande maioria(para não dizer todos) são super atuais.

    Concordo com quase tudo que você colocou, principalmente na questão de que temos que estar atualizados e procurar não “emburrecer”, pois a tecnologia faz com que raciocinemos menos e também gostei da questão dos planos A, B e C.

    Tenho 57 anos, desde os 50 anos posso dizer que conquistei minha liberdade financeira, mas como você falou, não sabemos o dia de amanhã. Também “não sofro” por isso, porque essa estabilidade me permite viver o hoje. Também acredito que a fé, crença em Deus e ensinamentos de Jesus, tornam nossa vida muito melhor. Utilizo meus recursos para viver a vida de verdade, sem esbanjar, mas realizando muitas coisas(materiais), que a 20 anos, não imaginava que fosse possível. Com certeza só consegui atingir esse grau de tranquilidade e paz, porque acertei muito mais que errei e trabalhei para isso.

    Você fez parte desse processo, aprendi muito com você desde 2015, quando o conheci, na parte de investimento em ações foi uma grande virada em minha vida.

    Recentemente fui Abençoado com minha primeira netinha, mais um sonho que estou realizando.

    Hoje faço o que gosto de fazer e me da prazer.

    O que não concordo com você é a tal “mudanças climáticas”,

    Falam tanto nisso, para impor o tal agenda ESG, assim escravizando cada vez mais países subdesenvolvidos, onde estamos incluídos. Existe sim , na minha opinião, pessoas que acham que podem dominar “o mundo”, com agendas nojentas e que fazem totalmente o oposto do que pregam.

    Grande abraço Mestre Leitão!

    JCF

  7. 7 Anônimo

    Boa noite, Leitão! Li atenta e integralmente o texto e A D O R E I.

  8. 8 Leitão

    Oi Dj!
    Obrigado pelo seu depoimento pessoal! Muito interessante seu relato! Pois é… eu tenho uma tese de sempre ir na direção contrária da maioria. Quem conseguir preservar o humano e nadar contra a corrente atual, vai ter um grande diferencial no mundo que está se formando. Inclusive é assim que procuro educar meus pequenos, para pensarem e agirem fora da cultura massificada/robotizada.

    ———————–
    Oi JCF!
    Obrigado, meu amigo! Fico imensamente feliz em saber que contribuí de alguma forma nessa sua jornada! E parabéns pela netinha! Se já é bom curtir filhos pequenos, eu fico imaginando então netos, deve ser melhor ainda! Pois avô pode aprontar o que quiser, rss! Meu avô, Tião, teve grande participação na formação de minha personalidade e caráter.

    Sobre as “mudanças climáticas”, também não gosto da politização e ideologização em cima disso. Essa idealização de tudo (sexo, educação de filhos, cultura, comida, etc, etc) é muito ruim, coisa de gente que cresceu sem referências e agora busca desesperadamente alguma ideologia para sobreviver (como diria Cazuza). Eu falo sobre os reclames reais e naturais mesmo. Basta parar e observar, a natureza é soberana.

    ——————————-
    Obrigado também “anônima”, rss… Vc esqueceu de deixar seu nome ou nickname. Um forte abraço!

  9. 9 laurocpereira

    Que texto sensível e fortalecedor. Parabéns, Leitão. Sou investidor e aprecio muito teus textos e ensinamentos. Obrigado

  10. 10 Anônimo

    Perfeito!

    Minhas perguntas se direcionam ao que não está e nem nunca estará no domínio da tecnologia.

    O que sou?

    Deus existe?

    Existe Justiça?

    O que é a Lei?

    Quais as propriedades da Lei? (neste ponto tive o auxílio de Borchenski)

    Como posso me aperfeiçoar? (não no sentido de acumular conhecimento e sim de me tornar mais sábio)

    Essas perguntas me levaram a metafísica.

    Cheguei ao cogito precognitivo de Descartes.

    E entendi que existe um mundo de inexistentes que existem apenas na possibilidade humana.

    Como a definição geométrica de ponto – o adimensional.

    ***

    É um grande privilégio viver nessa época.

    ***

    Consultei muito o Chat GPT, aquilo é uma enciclopédia de ontologia.

    ***

    Quanto aos investimentos… estou indo um pouco para o real state e estou confiante que o sistema é resiliente.

    Aguenta até a minha morte.

    Quanto aos descendentes darão suas respostas como os antepassados deles deram e eu mesmo respondi aos desafios da minha época. Amparado que fui pelas possibilidades legadas pelos ancestrais.

    *

    A vida só dura para quem é mole.

    Tempus fugit!

    Memento mori.

    ***

    S.F.

  11. 11 Leitão

    Oi Lauro! Obrigado! Que bom receber suas visitas, apareça sempre!

    ——————-

    Oi S.F.!

    Muito obrigado pelo seu comentário! Eu gosto muito do pensamento de Louis Pasteur, que diz: “Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.”

    Também já fiz essa viagem. Muitos pensadores foram e não voltaram, tanto que boa parte dos filósofos se mataram.

    Nós, investidores, somos esperançosos por natureza. Senão não seríamos investidores. Investir é um ato de sobriedade e, sobretudo, de esperança. Vale a pena, hoje não teorizo mais sobre isso, vivo na prática.

    Apareça sempre por aqui!

    Abraços!
    Leitão


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